domingo, 22 de março de 2015

Coleção, de Krzysztof Pomian

Museu é uma coleção, ou seja, qualquer conjunto de objetos naturais ou artificiais, mantidos temporária ou definitivamente fora do circuito de atividades econômicas, sujeitos a uma proteção especial num lugar pronto a esse fim, e expostos aos olhos do público.
Arquivo é uma instituição destinada a pôr em segurança, recolher, classificar, conservar, guardar e tornar acessíveis documentos que, tendo perdido sua antiga utilidade cotidiana e por isso considerados supérfluos nas repartições, mereçam ser guardados.
Já as Bibliotecas têm uma definição mais complicada. Livros tratados enquanto objetos, com belas encadernações, capas artísticas, conferem a estas bibliotecas status de coleção. Ou as bibliotecas desempenham função de arquivo, ou têm apenas obras de entretenimento. Estes casos são diferentes de bibliotecas que recolhem livros onde se extraem informações de atividades econômicas, que não podem ser assimiladas às coleções. Os objetos de coleção tem valor de TROCA, sem valor de USO.

Pomian fala em Coleção de Coleções, citando o Mobiliário Funerário, tumbas com objetos que pertenciam aos mortos, depois substituídos por modelos, mais difíceis de executar e mais caros. As Oferendas, objetos ofertados aos deuses em templos de Musas (como o Museu de Alexandria). Objetos tornam-se sacros. Sobre Presentes e Despojos, Pomian diz que os detentores do poder recebiam presentes de embaixadores, por exemplo, os quais eram mostrados em festas aos cortesãos. Em Roma, o general que voltava de uma campanha vitoriosa tinha o privilégio de mostrar as riquezas conquistadas. As Relíquias e Objetos Sagrados, devido ao Cristianismo, o culto aos Santos, levou a valorização dos objetos sacralizados ao apogeu. Já os Tesouros Principescos vem a ser a acumulação de objetos do cotidiano (talheres, por exemplo) mas de metais preciosos. Provavelmente não para uso, pela grande quantidade, mas para exibição em momentos solenes. Todas essas coleções diferem-se umas das outras e também do conceito de Coleção contemporâneo.
O autor também cita o visível e o invisível como características importantes das Coleções. O mobiliário e oferendas aos mortos SÃO coleções, visíveis aos mortos e deuses. Relíquias representam o passado e mais o sagrado, por simples contato com santos ou de serem partes de seus corpos. Objetos só asseguram a condição de comunicadores entre os mundos dos mortos e vivos se expostos. O invisível está muito longe no tempo, muito alto ou baixo. Além de espaço físico, na Eternidade.
Os modos de transmissão de mensagens ao invisível são variados: sacrifícios, oferendas, rezas, etc. Enquanto os fenômenos de representação do invisível se dão por meio de aparições celestes, meteoros, plantas sagradas, animais (como as vacas na Índia), entre outros. E é a linguagem que dá origem ao invisível. Permite falar dos mortos como vivos, do passado como presente. A produção de elementos que representam o invisível surge com a emergência da cultura.
Dentro do visível, COISAS são usadas e, por consequência, consomem-se. E os objetos tornam-se SEMIÓFOROS quando perdem a utilidade no sentido acima, mas são dotadas de um novo significado, que se desvela quando expostos ao olhar.

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