domingo, 22 de março de 2015

Breviário de um Museu Mutante e Da coleção impossível ao espólio indesejado: memórias ocultas do Museu Julio de Castilhos, de Letícia Borges Nedel, Universidade de Brasília – Brasil

O perfil do Museu Julio de Castilhos é forjado na era dos "museus nacionais". O patrimônio dos povos e coleções sendo disputados pelos Estados, diferenciando-se dos "gabinetes de curiosidades"da nobreza.
O MJC inicia ligado ao espólio da Exposição Agropecuária de 1901, numa época de de exposições universais pelo mundo. O Governador Julio de Castilhos propôs a criação de um museu a partir da reunião de exemplares de minerais da Exposição Agropecuária, realizada nos campos da Redenção (POA). Nos primeiros tempos do museu, esse tinha um caráter enciclopédico, e a partir da década de 1950, passa a priorizar o folclore e tradições pátrias e, sobretudo, rio-grandenses.
O advento do MJC é posterior a duas tentativas de criação de museus provinciais, um Instituto de Historia e Geografia e um arquivo, durante o Império. Só durante a República foi superada a ausência de órgãos para guardar a memória da república . Com o Arquivo Publico, que desde o início servia à pesquisa histórica. Já o MJC era um lugar de memória, de heróificação de vultos republicanos. Em seu início era fechado à visitações, somente recebendo pesquisadores estrangeiros, sem contemplar funções museológicas. Armazenava então presentes recebidos ou produzidos pelo Executivo estadual, sem tratamento cronológico ou temático dos objetos expostos. Com uma orientação positivista, o museu tinha três seções voltadas para ciências físicas e biológicas e somente uma para ciências, artes e documentação, mostrando o papel indefinido da História. Isso perdurou até a década de 1920.
Ocorreu em 1925 uma guinada em direção ao novo formato do MJC, com a incorporação da seção histórica do Arq. Público e parceria com o Instituto Histórico e Geográfico do RS. Todos os órgãos se fundem, com diretores circulando entre estes. Em 1943 o regulamento do MJC é adequado às funções que exercia desde 1925. Sua função museológica é de "catalogar, colecionar e expor, sistematicamente, documentos históricos e geográficos, relíquias históricas, arqueológicas e artísticas do Brasil e especialmente do Rio Grande do Sul". Durante o Estado Novo, a política de atuação volta-se ao público, com preocupação pedagógica e consequente visita de escolas.
Na década de 60 verifica-se a tendência de diversificação de acervos nos museus, devido aos genocídios praticados durante a WWII em nome das Nações. Começa um processo de destituição de heróis políticos do papel ordenador da história social. Na década de 70, chegam a especialização e diversificação,  palavras de ordem nos debates sobre políticas de preservação, aquisição e curadoria.
A Lei nº 2.345, promulgada em janeiro de 1954, obriga os museus a determinar áreas de interesse. Então, o acervo do MJC é dividido entre MARGS, Zoológico e Arquivo Histórico. A pesquisa e divulgação do Folclore aparece entre as atividades do Museu. O intelectual Dante de Laytano, à frente do Museu, divulgava um RS cheio de particularidades em relação ao Brasil, mas parte do "mundo português". Cria seção açoriana, busca itens originais das ilha, mas o custo financeiro dificulta o projeto. Este mal visto por conservadores, por presenças étnicas "indesejáveis".
A confusão entre "tradição" e "folclore" minou a legitimidade da ascendência açoriana pretendida por Laytano, barrando a entrada do folclore no MJC. Isso passa às mãos dos CTG's.

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