domingo, 17 de maio de 2015

Os Museus Brasileiros no Século XIX

O Brasil presenciou no Século XIX o surgimento de quatro importantes instituições, que são o Museu Nacional, no Rio de Janeiro; o Museu Paulista, em São Paulo; o Museu Paraense Emílio Goeldi, em Belém do Pará; e, por fim, o Pedagogium, também no Rio de Janeiro, sobre os quais farei uma breve apreciação.

O Museu Nacional surge no Rio de Janeiro em 1818, em substituição ao espaço chamado de "Casa dos Pássaros", uma espécie de entreposto que recebia e preparava produtos naturais e adornos indígenas para enviar à Lisboa. Com a transferência da Corte para o Rio de Janeiro, esse serviço não se fez mais necessário. Num primeiro momento, era um museu comemorativo: expunha, sem qualquer classificação, arquivos de coleções e curiosidades. Dois aspectos faziam falta no museu: as conquistas, que propiciavam aquisição de itens, o que impulsionava os museus nacionais europeus, e recursos financeiros. A partir das administrações de Ladislau Netto (1874-93) e de Batista Lacerda (1895-1915), o museu se estrutura nos moldes dos grandes centros europeus. É criada uma revista, Archivos do Museu Nacional, para comunicação e permuta com os museus estrangeiros. As Ciências Naturais, como zoologia, botânica e geologia, predominavam nas páginas da revista. E o regulamento do museu corroborava essa característica: segundo o documento, "o Museu Nacional é destinado ao estudo de história natural, particularmente do Brasil e ao ensino de sciencias physicas e naturaes".
As ciências naturais de fato predominavam nos artigos da revista, e os artigos referentes à Arqueologia eram esparsos e tratavam de vestígios pouco significativos da cultura material. Já os artigos de Antropologia tratavam sobretudo de crâniometria. Para o Museu Nacional, a Arqueologia era um ramo das ciências naturais, tanto que o primeiro curso de Antropologia brasileiro foi oferecido por essa instituição, e esta revelava nele suas concepções sobre a disciplina.

O Museu Paulista surge a princípio como um monumento à Independência e um lugar de exaltação à pujança de São Paulo, à ascenção da nova província no cenário nacional. Esse quadro do museu como monumento histórico, sem uma perspectiva científica bem definida começa a mudar quando o governo paulista contrata o zoólogo Herman Von Ihering. Ele idealizou um museu etnográfico, com o intuito de estudar a história natural da América do Sul e em especial do Brasil. Ihering era um Evolucionista , e essa perspectiva pautava o primeiro número da Revista do Museu Paulista, que era muito centrada na figura do diretor, sua carreira e trânsito internacional.
Também notava-se o predomínio das ciências naturais,com o modelo evolutivo da biologia servindo de base para todos os seres vivos da Terra e em especial para explicar a evolução da humanidade, numa interpretação com base científica e positiva. A produção do Museu Paulista denotava o nascimento de uma Antropologia colada nos parâmetros e modelos das ciências naturais.

O Museu Paraense Emilio Goeldi tem origem na Associação Filantrópica do Pará, que queria transformar a Amazônia, o "paraíso dos naturalistas", sobretudo estrangeiros, num campo fértil para os cientistas brasileiros. Entre 1866 e 1891, o museu passa por vários empecilhos burocráticos, mudanças de controle, passando da Associação para a administração estadual. Mas o museu seguia padecendo das mesmas carências: verbas, objetivos e pessoal capacitado.
Em 1893 o governador Lauro Sodré contrata o zoólogo Emilio E. Goeldi, recém demitido do posto de naturalista do Museu Nacional. Goeldi já entra na instituição organizando as diferentes seções (zoologia, botânica, etnologia, arqueologia, geologia e mineralogia), monta uma biblioteca especializada em ciências naturais e antropologia, além de jardins zoológico e botânico, nas dependências do museu.
No intuito de reproduzir as instituições européias de mesmo modelo, Goeldi traz diversos naturalistas europeus para o Museu Paraense e elabora duas revistas: Boletim do Museu Paraense e Memória do Museu Paraense. Revistas semelhantes às outras publicações citadas, calcadas nas ciências naturais. Mas tinha como base estudos locais produzidos por naturalistas europeus e norte-americanos.
Goeldi valorizava as grandes potencialidades locais, ao mesmo tempo que se queixava do estado material do museu, que julgava ser depositário de curiosidades: "É preciso que o museu cesse de ser uma repartição pública e se torne uma oficina científica". Isso tudo fez com que a importância do Museu Paraense não se desse por uma efetiva produção local, e sim pelo atrelamento à lógica dos centros do exterior e sua produção, que eram o principal conteúdo das suas publicações.

Por fim, o Pedagogium, que foi um museu pedagógico criado no Rio de Janeiro em 1890, por iniciativa de Benjamin Constant, entao Ministro da Instrução Pública, e fechou suas portas em 1919. Concebido para ser um centro irradiador de reformas e qualificação que a educação nacional tanto carecia. Com foco principal no ensino das escolas normais, o Pedagogium coordenava e controlava as atividades pedagógicas no país. Para isso, instituiu a Revista Pedagógica, que era distribuída a professores públicos primários e secundários, imprensa e estabelecimentos de instrução públicos.

A despeito das particularidades de cada instituição, o que unia os museus brasileiros do Século XIX era a sua vocação de ser o espaço para pesquisas e propagação do conhecimento, por meio de cursos, das primeiras faculdades brasileiras, surgidas dentro dessas instituições, das publicações das revistas e seus artigos e, sobretudo, pela atuação dedicada dos diretores do período. Com a chegada do Século XX e o surgimento das Universidades, esse papel pioneiro dos Museus foi gradativamente se esvaziando.

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